O professor Jorge Coli falará no ciclo de conferências “Mutações: a sensibilidade e a construção do mundo” nos dias 27 e 28 de agosto no Rio de Janeiro e São Paulo respectivamente. Tratará, em sua conferência, do mistério na arte.
Um livro de ficção completamente lógico é impossível; talvez o parcialmente lógico também seja. Existe uma lógica de um livro de ficção, mas ela é uma. E o que a compõe? Mistério e mistérios. O mistério volta-se para a totalidade de uma obra – uma visão, um sabor, um sentimento gerais… -, composta de mistérios, que respondem por pequenos golpes. Vamos a um exemplo.
Um escritor teima com uma galeria comercial. Ela é para ele como uma cidade reduzida e por isso possível. Precisa registrá-la, em sua arquitetura, em seu movimento, nos seus itens e produtos; nos balancetes de suas lojas; no drama de seus frequentadores; mesmo nos aviões e navios que abasteceram tal galeria – e isso tudo compõe um todo, que, dependendo da sensibilidade do escritor, não é a galeria, mas o signo dela. O escritor não quer – nem nunca quis – a galeria em si, mas ela nele. A galeria é também um signo do escritor, que se o captasse completamente, morreria em vida.
Para tudo isso, o escritor mostra-se um polvo, que envolve seu objetivo de diversos modos, prendendo-o com ventanas que são sensibilidades concentradas; alguém face a algo que o reflete.
Ao mesmo tempo, escritor e objetivo são livres.