Lê-se no texto de abertura à “Sensibilidade e a construção do mundo”, de Adauto Novaes, que os sentidos sem pensamento induzem à superficialidade; sem sentidos, o que se dá é o vazio do pensamento. Isso compele a pensar no “desejo”. Como seria ele em cada um dos extremos. No caso da vida superficial como uma bolha de sabão percorrida por cores, deseja-se – imediatamente. Os desejos sofisticados – porque, sim, eles podem ser sofisticadíssimos – são inviáveis, sobretudo porque eles requerem de quem deseja planejamento, estratégia. A capacidade de suportar um mal em função de um bem maior inexiste, nesse caso. Isso porque, os sentidos, sem pensamento, não alcançam o futuro. Eles reagem ao mal como se ele fosse imediato e eterno a um só tempo. O que, por outro lado, é especular o desejo sem realizá-lo nos sentidos? Nada. Não há prazer sem sentidos. O pensamento pode ser prazeroso sim, mas ele precisa sê-lo de modo visível, audível e, principalmente, palpável.
Mas vivemos esse turbilhão em que há pensamentos fraturados, sensações que não vêm à consciência, imaginações como realidades e vice-versa – desejos que se seguem rapidamente… Parte da felicidade consiste em extrair o melhor disso.