O ciclo de conferências “Mutações: a sensibilidade e a construção do mundo” começa no Sesc CPF, em São Paulo, e na Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, nos dias 7 e 13 de agosto, respectivamente. Participarão dele Francis Wolff, Vladimir Safatle, José Miguel Wisnik, Marilena Chaui e outros pensadores de destaque.
“Ver é ver mais do que se vê”. Essa frase, de Alain, poderia resumir o sentido que se quer dar aos sentidos no ciclo de conferências. Mais do que dar a entender que o sentido já é investido de algum pensamento, ela introduz o pensamento do poeta e filósofo Paul Valéry sobre o tema. Qual seja? Sensibilidade e inteligência não se opõem, mas aquela é força motriz desta. Pode-se até ir além e afirmar que pensamento e conhecimento são graus de uma supersensibilidade organizada, construída. E disso decorrem as produções intelectual, científica, artística… A relação é tal que, desprovidos de pensamento, os sentidos não se aprofundam; já o pensamento, desprovido de sentidos, é vazio. Nesse caso, não há história, política e construção de futuro. E a arte, por exemplo, não cumpre seu trabalho de transformar o sensível em obras duráveis.
No mundo em mutação, o afastamento do sentido e do pensamento é, dia após dia, maior. E a principal consequência disso é que, sem sentido, nega-se o mundo, impossibilita-se o futuro. Isso porque passado e futuro não são noções naturais ou animais; são condições de pensamento. Sem eles, não se cria e não se admira; não há o que poderia ter sido; o mais nobre e belo. Trata-se da supressão geral da sensibilidade. Numa palavra, perde-se a noção de duração. E o homem vive nela.
Não se deve ao acaso o apelo social das causas que envolvem a sensibilidade e, por vezes, o corpo, como a luta dos negros, das mulheres, dos LGBTQIAPN+, e isso vai se intensificar com a manipulação genética, a implantação de “chips”, o hibridismo entre o carbono e o silício e a nanomedicina.