Escritores

O que Ludwig Wittgenstein escreveu sobre pensar – não subir a escada para o andar superior sem vasculhar o andar em que se está – serve, e é regra, para o sentir. Não há atalho para a sensação, o sentimento, a sensibilidade. Não há isso de “se aprendi com ter sentido X, entenderei Y”. A pessoa sensível morre de amor umas três vezes na vida, pelo menos. Seria, portanto, não um direito mas um dever do ser humano sentir profusamente – dos baixos aos altos prazeres, por exemplo. Delega-se isso ao artista, e nisso se erra e acerta a um só tempo. Erra-se porque a amplitude de vida deveria ser ensinada a todos; acerta-se porque é preciso viver para criar, razão pela qual não há, por exemplo, prodígios da escrita como há da matemática, cuja razão se fecha em si. O escritor ainda. Ele precisa sentir até entender a traição amorosa ou o mendigo. É em seu discurso de premiação do Nobel que o conservador Octávio Paz diz entender até o terrorista nos recônditos da América Latina. Mas isso não significa viajar muito, embora isso tenha sido importante para muitos escritores. Blaise Cendras considera ter passado fome em Nova York uma experiência importante para a constituição dele como poeta. Mas um Fernando Pessoa nunca saiu de Lisboa e, em seus escritos, referiu-se ao mundo incansavelmente. O mar, barcos, navios, outros países, maravilhas – estava tudo em sua imaginação, e para ele viajar era “perder países”. Imaginava, e realizar é perder. Nisso insiste Thomas Mann nas novelas “Tonio Kröger” e “A morte em Veneza”. Desconfia da ação. Como o conferencista Eugênio Bucci cita de “Tonio Kröger”, “todo agir é um pecado para o espírito”.

Sentir, inclusive como mercadoria, pensar, agir – é disso que Bucci tratará na sua conferência.