As vozes do mistério são perceptíveis e inalcançáveis. As obras de arte permitem um caminho para o limiar e para a sensação do mistério existente; elas se comparam, de algum modo, ao exercício da oração. Mas não nos iludem: o encanto não traz a resposta, sua revelação é rápida.
As artes, alimentadas pelo aguçamento da sensibilidade, provocam epifanias. Uma epifania é um momento de profunda intuição, ou revelação, sem se reduzir à pura compreensão. Apesar disso ela traz a sensação de iluminação que acompanha o momento intuitivo. De novo, surge o paralelismo com o sentimento religioso: são as transformações violentas e instantâneas que levam à conversão, Saulo no caminho de Damasco. Mas no campo religioso, opera-se uma transferência da sensibilidade para a crença, ou seja, para um vetor explicativo sobrenatural. As artes propõem menos e mais: menos, no que concerne a resposta que não trazem; mais, na experiência.