Em um mundo feito, cada vez mais, da pressa e do imediato, há que se exigir muito da sensibilidade para que ela continue a se impor ao universo do racional e do precipitado. Mas há momentos em que tudo pede calma: sobretudo diante de uma obra de arte que costuma exigir de nós um tempo diacrônico, quando muitas temporalidades convivem a partir de um presente que relembra o passado. Pelo passado que convoca o presente.
Esse tempo do sensível costuma habitar numa tela, que nos força a abdicar, mesmo que por minutos, da naturalização do cotidiano ligeiro, quando somos instados a parar e olhar.
Proponho assim retomar a noção de sensibilidade a partir de algumas obras em especial, mas sobretudo executando uma sorte de contranarrativa. Ler imagens privilegiando detalhes, que em geral passam desapercebidos de uma observação mais rápida e que só se detém naquilo que formalmente lhe é oferecido. Pretendo mais; perceber como uma certa sensibilidade, muito disseminada, faz com que nosso olhar deixe de notar a maneira como se impõe determinados valores no lugar de outros. Uma determinada civilização branca por contraposição à barbárie das outras; uma forma de representação que visa elevar uma forma de classificar os demais, e invisibilizar aquele que produz a classificação. O próprio índice da classificação.
Chamo essa determinada sensibilidade de presença da ausência, e outra da ausência da presença. A uma de presente do passado, à outra de passado futuro.
Essas são todas formas de sensibilidade que se apresentam diante de uma tela. Num repente que se vislumbra de muitas maneiras: confirmando ou desnudando a norma.