No texto “Eupalinos ou o arquiteto”, escrito em 1921 para a revista Architectures, Paul Valéry cria um diálogo entre Sócrates e Fedro no mundo dos mortos, no qual Fedro descreve ao espectro do filósofo as obras e os pensamentos de Eupalinos de Mégara, um grande arquiteto grego, segundo ele, criador do templo de Ártemis. Entusiasmado com o que ouve, o Sócrates morto vai se declarar, ao final do texto, um anti-Sócrates: “o construtor”, amante das coisas materiais. No caminho dessa conclusão, porém, dá-se uma bela sequência de diálogos sobre a proximidade filosófica entre a arquitetura e a música, por oposição às outras artes, quando Sócrates, após ouvir o relato de Fedro sobre o arquiteto de Mégara, diz que se pudesse encontrar esse Eupalinos, lhe pediria ainda um esclarecimento: “Expressar-se mais claramente a respeito dos edifícios que, no seu dizer, ‘cantam’.” Valéry, nesse ponto, está construindo uma trama elíptica, ao colocar na boca do seu Eupalinos a famosa expressão de Auguste Perret, que tanto encantou o arquiteto Vilanova Artigas: “l’architecture c’est l’art de faire chanter le point d’appui”.
A conferência procurará aprofundar essas ideias, buscando novas pontes entre arquitetura e música a partir da questão da sensibilidade e do sentido. Ainda, buscará refletir sobre a atualidade da questão, indagando sobre a validade ou não da comparação diante de exemplares de arquitetura contemporânea, abarcando desde o laconismo de Peter Zumthor até a estridência ruidosa de Frank O. Gehry.